A saúde feminina e o vinho
- Dr. Antonio Guilherme Moreira Porto
- 11 de ago. de 2015
- 3 min de leitura
Baco é o deus do vinho e da fertilidade. Diante dessa parceria, criada pela mitologia grega, é obrigatória a opinião do ginecologista sobre o tema. No mundo moderno, não apenas os bacanais, mas todas as comemorações da nossa sociedade são regadas a vinho.
O ginecologista deve alertar suas clientes que o organismo feminino tem menor capacidade de metabolizar o álcool em relação ao masculino; a explicação está na maior proporção de tecido gorduroso no corpo das mulheres e por diferenças entre os dois sexos na concentração gástrica de desidrogenase alcoólica (enzima crucial para o metabolismo do álcool). Assim, elas podem ingerir apenas uma dose diária, enquanto os homens podem chegar a duas doses, lembrando que uma dose corresponde a uma taça de vinho. Essas limitações são estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde, lembrando que cada indivíduo tem uma particular fisiologia em relação à aceitação da bebida alcoólica.
Os efeitos benéficos da taça de vinho são sentidos com o alívio das cólicas menstruais; sabemos que o álcool inibe a produção de vasopresina (hormônio antidiurético) que tem ação estimulante nas contrações uterinas. Vale lembrar como curiosidade que, o álcool foi administrado pela via intravenosa em gestantes para bloquear o trabalho de parto prematuro. Essa ultrapassada terapia foi proposta por Fucks (Dinamarca) quando observou que as parturientes embriagadas tinham trabalho de parto muito mais demorado por falta de atividade uterina.
Muitas mulheres recorrem ao álcool para obter alívio das ansiedades e depressão; a genética e a constituição contribuem para predispor ao alcoolismo. As influências culturais reforçam os padrões familiares, aonde os pais são permissivos em relação à bebida. O alcoolismo de alguma forma é comum nos pais, nos irmãos e no cônjuge do que na população em geral
Quando que o álcool está começando a ser lesivo para o organismo feminino?
A melhor avaliação é pela dosagem de Gama-GT (avaliação função hepática). Essa enzima aumenta precocemente, mesmo quando os danos hepáticos ainda são reversíveis, mas os valores alterados não indicam necessariamente dano pelo álcool – pode estar relacionado a outras causas.
Doença cardiovascular
Mulheres que ingerem um drinque por dia apresentam menor probabilidade de morte por doença cardiovascular. Esse benefício também é válido para as mulheres diabéticas e é motivado pela presença no vinho tinto dos flavonóides e do reveratrol presentes na uva.
A Universidade de Bordeaux realizou inúmeros estudos e experimentos para elucidar o chamado "PARADOXO FRANCÊS", segundo o qual a população daquele país apesar de uma dieta extremamente gordurosa apresentava índices baixíssimos da incidência de doenças coronarianas. Depois de exaustivas pesquisas, chegou-se à conclusão que o elemento responsável por esse fenômeno era o consumo de vinho em doses moderadas.
Câncer de mama
Mulheres habituadas a ingerir de 2,5 a 5 drinques por dia, apresentam probabilidade 40% maior de desenvolver câncer de mama. Esse risco aumenta 9% para cada 10 gramas de álcool (cerca de 1 drinque) diárias.
Osteoporose
O efeito inibidor da remodelação óssea do álcool é fenômeno bem conhecido em ambos os sexos. Mulheres com menos de sessenta anos que tomam de dois a seis drinques por dia têm risco maior de fratura de colo de fêmur e de antebraço.
Distúrbios psiquiátricos
Todos eles são mais prevalentes em mulheres que abusam de álcool do que em homens que o fazem e do que em mulheres abstêmias. A prevalência de depressão em mulheres que abusam de álcool é de 30% a 40%. Anorexia e bulimia estão presentes em 15% a 32% das que abusam de álcool. Mulheres que abusam de álcool tentam o suicídio quatro vezes mais freqüentemente do que as abstêmias.
Conseqüências para o feto
Nos EUA, o alcoolismo materno é a principal causa de retardo mental em crianças, já existe a descrição da Síndrome Alcoólica Fetal, caracterizada por uma lesão do sistema nervoso central do feto. Consideramos de risco para a evolução dessa síndrome, a ingestão sistemática pela gestante, durante toda a gravidez, de duas ou mais taças de vinho. Tal constatação não impede que a gestante tome de maneira parcimoniosa e com intervalos, uma taça de vinho no jantar ou durante comemorações.
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